Imagine você chegando ao consultório do seu nutricionista, e ele com seu prontuário tendo todo seu material genético decodificado num documento anexado e ao te olhar diz “você provalavemente desenvolverá câncer de próstata daqui uns 30 anos, porém graças ao conhecimento sobre nutrientes e compostos bioativos de alimentos vamos seguir uma dieta que a chance de desenvolver esse câncer será menos de 7%”. E você respira fundo e fala, “Dr. pode elaborar uma dieta que eu seguirei ao pé da letra”. Enfim estamos longe disso, mas sabe que graças a novo ramo da nutrição chamada nutrigenômica, que reúne conhecimentos sobre nutrientes e genes, possivelmente esse cenário algum dia fará parte do atendimento aos pacientes.
Mas antes de tudo, vamos entender melhor o que é nutrigenômica. Ela é uma área que estuda os efeitos de nutrientes e compostos biotivos dos alimentos sobre a expressão gênica (processo pelo qual a informação hereditária contida em um determinado gene resulta na produção de RNA mensageiro e, posteriormente, de uma proteína, de acordo com a constituição do DNA de cada individuo).
Em 2003, foi concluído o projeto genoma humano, no qual foi possível a decodificação de todo mapa genético, mostrando o nosso genoma (todo material genético) é 99,9 % idêntico e apenas 0,1% é diferente. Essa diferença é responsável pela cor dos nossos olhos, pele, cabelos e inclusive pelo risco menor ou maior de desenvolver doenças crônicas e necessidades de nutrientes. Na linguagem técnica chamamos essas diferenças de polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNPs).
Para entender melhor a aplicação disso, considere um polimorfismo bastante importante descrita no gene PARy, participante no controle de níveis de triglicerídeos (um tipo de gordura mais abundante do organismo) no sangue. Pessoas com esse polimorfismos (PARy) apresenta maiores níveis dessa gordura em comparação com aqueles que não tem essa variação genética. Outro exemplo, relacionando polimorfismo é aumento do HDL- bom colesterol pelo consumo de ômega-3(obtida pela ingestão de peixe, por exemplo) em indivíduos sem presença de um polimorfismo no gene APOA1, relacionado ao metabolismo de gordura. Porém não ocorre o aumento de HDL – colesterol em indivíduos com SNP nesse gene.
Tendo em consideração de que alteração na expressão dos genes está relacionada ao desenvolvimento das diversas doenças crônicas não transmissíveis, como vários tipos de câncer, obesidade e diabetes tipo 2, os nutrientes e compostos bioativos podem ter ações benéficas ou deletérias dependendo de quais genes têm expressão alterada. Para saber como os compostos bioativos reagem com os alimentos, considere o exemplo de ômega-3 (uma forma de gordura mais simples conhecida como ácido graxo poli insaturado).Ao consumir, essa gordura simples atravessa o núcleo da célula e junta-se com as proteínas chamadas “ fatores de transcrição” e eles “mexem” na região de promoção do gene que é transcrito, formando o RNA mensageiro que depois é traduzido em proteínas, responsável por todas as funções celulares do organismo. É importante falar que tudo ocorre sem afetar a estrutura do DNA.
Portanto, essa nova ciência vem reforçar o conceito de uma nutrição personalizada só que baseado no DNA da pessoa. Certamente será um importante instrumento na promoção de saúde fundamentado nas recomendações mais direcionadas e efetivas. Porém a um longo caminho a percorrer, envolvendo aspetos éticos e custo muito elevado para o sequenciamento dos genes das pessoas e sua aplicação.
Fontes:
Ong e Rogero: Nutrigenômica- interação Gene- Nutriente para promoção de Saúde, 2009
Rogero- Ele ensina o futuro da Nutrição, disponível em http://www.crn3.org.br/atualidades/revistas/arquivos/nutrir_04_07.pdf